Receitas do futebol Brasil x Europa: Por Que Ainda Estamos Longe?

O futebol brasileiro é reconhecido mundialmente pelo talento e pela paixão de sua torcida. No entanto, quando comparamos o modelo de gestão e as receitas dos clubes brasileiros com as principais ligas europeias, percebemos uma distância que ainda parece intransponível. O relatório da Convocados Gestora de Ativos de Futebol, Outfield Inc e Galapagos Capital mostra que, apesar dos avanços, ainda falta muito para o Brasil competir de igual para igual fora das quatro linhas.

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O tamanho do mercado: uma distância bilionária

Os números falam por si. Em 2024, a receita total de todos os clubes da Série A brasileira somou R$ 9,9 bilhões. Um crescimento em relação aos anos anteriores, mas ainda muito abaixo do que movimentam as principais ligas europeias.

Receitas totais em 2024:

  • Premier League (Inglaterra): cerca de R$ 40 bilhões.
  • La Liga (Espanha): cerca de R$ 20 bilhões.
  • Série A (Itália): cerca de R$ 15 bilhões.
  • Bundesliga (Alemanha): aproximadamente R$ 20 bilhões.

Apenas a Premier League arrecada mais de quatro vezes a soma de toda a Série A brasileira. Essa diferença mostra não só a força do futebol europeu como também as limitações estruturais do nosso mercado.


Gestão profissional e governança

Um dos principais motivos dessa disparidade é a diferença no modelo de gestão. Enquanto a Europa adota um padrão corporativo, com conselhos de administração, transparência e profissionalismo, muitos clubes brasileiros ainda operam como associações civis, com dependência política e pouca eficiência.

O relatório destaca que, no Brasil:

  • 82% dos clubes ainda têm dívidas crônicas que comprometem o caixa.
  • A gestão é muitas vezes reativa, baseada em resultados imediatos.

Na Europa, clubes como Real Madrid, Bayern de Munique e Manchester City são exemplos de como a profissionalização e a disciplina financeira ajudam a gerar superávits mesmo em campeonatos competitivos.


Direitos de transmissão: um abismo comercial

Outro fator de desequilíbrio são os direitos de transmissão, principal fonte de receita dos clubes europeus. Na Premier League, por exemplo, o contrato atual de TV distribui mais de R$ 20 bilhões por ano aos clubes. No Brasil, o valor é menos da metade disso, mesmo considerando as negociações mais recentes.

Essa diferença impacta diretamente a capacidade dos clubes de contratar, investir em infraestrutura e manter seus principais atletas.


Receita por clube: a elite europeia vs. a realidade brasileira

Vamos aos números médios por clube, usando dados do relatório:

Liga/ClubeReceita média por clube (R$)
Premier League (Inglaterra)2 bilhões
La Liga (Espanha)1 bilhão
Série A (Itália)750 milhões
Bundesliga (Alemanha)1 bilhão
Média Série A Brasileira495 milhões

O Flamengo, clube mais rico do Brasil, arrecadou R$ 1,287 bilhão em 2024 – valor que o coloca na faixa média dos clubes de segundo escalão na Premier League. No entanto, para a maioria dos clubes brasileiros, a receita média fica abaixo de R$ 500 milhões – menos da metade do que movimenta um clube mediano na Europa.


Liga e modelo de competição: equilíbrio financeiro

Além da questão das receitas, as ligas europeias possuem modelos de distribuição de recursos mais equilibrados e regulamentações rígidas de fair play financeiro. No Brasil, ainda existe uma concentração excessiva nas mãos de poucos clubes, e o fair play financeiro, apesar de discutido, não é aplicado com a mesma força.

Isso resulta em:

  • Dívidas crescentes: no Brasil, o endividamento dos clubes somou R$ 14,6 bilhões em 2024.
  • Falta de equilíbrio competitivo: apenas alguns clubes conseguem disputar títulos de forma consistente.

Investimentos em infraestrutura e categorias de base

Na Europa, grande parte das receitas é reinvestida em infraestrutura e categorias de base – pilares para manter a competitividade. No Brasil, mesmo clubes com receitas expressivas ainda enfrentam desafios para manter centros de treinamento de ponta e para profissionalizar o futebol de base.

Exemplos:

  • Bayern de Munique: centro de treinamento avaliado em mais de R$ 1 bilhão, base de excelência.
  • Manchester City: City Football Academy, que combina formação e negócios.
  • Flamengo e Palmeiras: exemplos de clubes brasileiros que melhoraram a infraestrutura, mas ainda longe do padrão europeu.

O desafio da valorização dos atletas

Outro ponto destacado no relatório é que, mesmo como principal exportador de jogadores para a Europa, o Brasil captura apenas uma fração do valor gerado por esses atletas. A venda de jogadores no Brasil representa alívio financeiro, mas não o mesmo poder de reinvestimento que as vendas geram para clubes europeus.


Conclusão: o caminho ainda é longo – mas há oportunidades

O relatório deixa claro: o futebol brasileiro está longe de alcançar os patamares das principais ligas europeias em termos de receita e gestão. A diferença de arrecadação e a falta de governança continuam sendo as principais barreiras.

Mas também existem oportunidades:

  • O crescimento do mercado interno, especialmente no futebol feminino e no sócio-torcedor.
  • A possibilidade de usar as SAFs para atrair investimentos e profissionalizar a gestão.
  • A paixão do torcedor brasileiro, que segue sendo o maior ativo do nosso futebol.

Para que o Brasil se aproxime da elite europeia, será preciso mais do que talento em campo: será necessário repensar a forma de gerir, distribuir e investir o dinheiro do futebol. Só assim o país poderá transformar sua paixão em um negócio forte, competitivo e sustentável.

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