SAFs: Resultados do Novo Modelo de Gestão dos Clubes

Nos últimos anos, o futebol brasileiro passou por uma revolução silenciosa fora das quatro linhas: a transformação de clubes em Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs). Esse modelo de gestão, inspirado em práticas internacionais, tem como objetivo profissionalizar a administração, atrair investimentos e, acima de tudo, garantir maior sustentabilidade financeira.

O relatório elaborado pela Convocados Gestora de Ativos de Futebol, Outfield Inc e Galapagos Capital traz um panorama detalhado desse novo cenário e como ele vem impactando a saúde financeira dos clubes da Série A e B.

Modelo SAF no futebol ainda não garante sucesso, diz relatório

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O que são as SAFs?

As Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) são empresas criadas especificamente para administrar clubes de futebol, separando o patrimônio histórico da parte operacional. Na prática, permitem a entrada de investidores – nacionais e internacionais – que injetam capital para quitar dívidas e fortalecer a gestão.


Benefícios e desafios do modelo

A implantação das SAFs trouxe alguns benefícios diretos:

  • Atração de investimentos privados: investidores enxergam no futebol uma oportunidade de negócio e ajudam a profissionalizar a gestão.
  • Separação de passivos: as dívidas antigas (da associação civil) não afetam diretamente a operação da SAF.
  • Transparência e governança: maior rigor contábil e possibilidade de auditorias regulares.

Por outro lado, o relatório aponta desafios e riscos:

  • Dívidas históricas continuam existindo: mesmo com a SAF, a associação civil segue responsável pelas dívidas antigas.
  • Dependência de um investidor: o clube passa a depender fortemente da saúde financeira e da visão de quem o controla.

Quem está se beneficiando do novo modelo?

Alguns clubes já colheram frutos claros da transformação em SAF. Casos como Cruzeiro e Vasco são exemplos emblemáticos. Ambos passaram por reestruturações profundas e conseguiram aumentar significativamente as receitas em 2024.

  • Cruzeiro: arrecadou R$ 372 milhões em receita total e R$ 297 milhões em receita recorrente, mostrando sinais de recuperação financeira.
  • Vasco: receita total de R$ 408 milhões, com destaque para o crescimento das receitas comerciais e de sócio-torcedor.

Esses números indicam que, quando bem estruturada, a SAF pode ser uma saída para clubes historicamente endividados – um caminho para equilibrar as contas e voltar a ser competitivo.


Quem ainda enfrenta dificuldades?

Apesar do potencial do modelo, nem todos os clubes que se tornaram SAF conseguiram resolver seus problemas financeiros imediatamente. O Botafogo, por exemplo, vive um momento de forte exposição a receitas variáveis (como transferências e premiações) e ainda não consolidou um fluxo de caixa recorrente estável. Suas receitas recorrentes são boas (R$ 480 milhões), mas as dívidas antigas seguem um risco latente.

Além disso, Corinthians e Atlético-MG, mesmo não sendo SAFs, enfrentam dívidas que poderiam inviabilizar um processo de SAF se não forem tratadas com responsabilidade. O modelo da SAF não é uma fórmula mágica: precisa de gestão profissional e disciplina para evitar que a nova empresa herde os problemas da antiga associação.


SAFs e o equilíbrio financeiro do futebol brasileiro

O relatório também destaca que o crescimento das SAFs vem em um momento em que o futebol brasileiro precisa desesperadamente de soluções estruturais. As receitas recorrentes continuam muito abaixo das principais ligas europeias, e as dívidas da Série A chegaram a R$ 14,6 bilhões em 2024.

As SAFs podem ser um caminho para reduzir essa dívida histórica – mas apenas se houver responsabilidade:

  • Uso eficiente dos recursos: investir não só em contratações, mas em infraestrutura e formação de atletas.
  • Governança profissional: estabelecer conselhos de administração e fiscalização independentes.
  • Gestão de longo prazo: abandonar a cultura imediatista e pensar em projetos de décadas.

O impacto no futebol feminino e categorias de base

O relatório traz ainda um ponto importante: as SAFs também podem ajudar a fortalecer o futebol feminino e a formação de base. Como são empresas, as SAFs têm maior flexibilidade para investir em categorias estratégicas e gerar retorno a médio e longo prazo. Isso é essencial para equilibrar a balança de receitas e consolidar novos mercados.


Conclusão: um modelo em evolução

O modelo de Sociedade Anônima do Futebol está longe de ser perfeito, mas já mostrou resultados promissores em clubes que enfrentavam dificuldades históricas. Cruzeiro e Vasco são exemplos de como a entrada de investidores pode transformar um clube endividado em uma organização saudável e competitiva.

No entanto, a principal lição é que a SAF por si só não resolve todos os problemas: é preciso governança séria, disciplina financeira e foco em eficiência. Para 2025 e além, o futebol brasileiro precisará acompanhar de perto esses casos para aprender e replicar boas práticas – e, quem sabe, finalmente transformar o potencial do nosso futebol em um negócio sustentável e vitorioso dentro e fora de campo.

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