Os programas de sócio-torcedor se consolidaram como uma das principais fontes de receita e engajamento para os clubes de futebol brasileiro. Eles são um termômetro do relacionamento entre o torcedor e seu clube, funcionando como um pilar para a sustentabilidade financeira e como um catalisador de pertencimento. Em 2024, os dados mostram que, embora ainda distantes dos padrões europeus, os clubes brasileiros avançaram significativamente em seus programas de fidelização, encontrando no sócio-torcedor uma base sólida para o crescimento.
Modelo SAF no futebol ainda não garante sucesso, diz relatório
Despesas crescem acima da inflação e pressionam clubes da Série A em 2024
Recorde histórico e desafios: receita dos clubes da Série A alcança R$ 10,2 bilhões em 2024
O crescimento e a relevância dos programas de sócio-torcedor
Segundo o relatório da Convocados Gestora de Ativos de Futebol, Outfield Inc e Galapagos Capital, os programas de sócio-torcedor brasileiros passaram por uma transformação nos últimos anos. Em média, os clubes da Série A oferecem cinco planos distintos para atender diferentes perfis de torcedores — desde opções acessíveis a planos mais caros que garantem prioridade em jogos de alta demanda.
Entre os destaques:
- Valor médio mensal dos planos gerais: R$ 152.
- Valor médio dos planos com isenção total de ingresso: R$ 185.
Essa diferenciação mostra a busca dos clubes por atender tanto o torcedor popular, que quer apoiar o clube com um plano básico, quanto o fã mais engajado, disposto a pagar mais por benefícios exclusivos e prioridade em ingressos.
Casos de sucesso: exemplos de clubes que transformaram o sócio em receita e engajamento
O relatório destaca alguns clubes que se sobressaem ao usar bem seus programas de sócio-torcedor para gerar receita recorrente e fortalecer o vínculo com a torcida:
- Palmeiras: com o programa Avanti integrado ao Palmeiras Pay, o clube oferece cashback em ingressos e produtos oficiais. Resultado: um coeficiente de 4,4, um dos maiores do país, e fidelização crescente.
- Atlético-MG: criou o “GNV da Massa”, um plano gratuito que garante prioridade de compra. Com a baixa capacidade do estádio (Arena MRV), o coeficiente chega a 2,4, reforçando o valor do sócio.
- Grêmio: destaca-se por incluir o sócio nas decisões políticas do clube, fortalecendo o senso de pertencimento.
A importância do sócio-torcedor vai além do engajamento. Em 2024, vários clubes viram o impacto direto desses programas em suas receitas recorrentes. Um bom exemplo disso é o Fortaleza, que alcançou 99% de suas receitas recorrentes vindas de fontes como matchday e sócio-torcedor, mostrando como esses programas são fundamentais para clubes com menor poder de barganha em transmissões e patrocínios.
Desafios e oportunidades
Apesar dos avanços, o relatório mostra que o Brasil ainda está longe dos modelos internacionais. Clubes como Bayern de Munique, Boca Juniors e River Plate alcançam 100% de ocupação em seus estádios graças à força dos sócios e programas internacionais. No Brasil, Vasco e Corinthians são os únicos que aparecem no ranking global em taxa de ocupação.
Essa comparação reforça a necessidade de:
- Diversificar benefícios: oferecer não só prioridade de ingresso, mas também experiências exclusivas, produtos e participação em decisões.
- Aumentar o valor percebido: transformar o sócio em um consumidor ativo e participativo, e não apenas em um comprador de ingressos.
A força do sócio-torcedor como motor do crescimento sustentável
O relatório destaca que o sócio-torcedor deve ser visto como um motor de crescimento sustentável. Em tempos de flutuação de receitas com direitos de transmissão e de incertezas em patrocínios, essa base de receita previsível e recorrente ajuda a manter a saúde financeira dos clubes. Além disso, cria um elo emocional que vai além dos resultados em campo — fundamental em momentos de crise.
Conclusão: o caminho para 2025
Em 2024, o sócio-torcedor consolidou-se como ferramenta estratégica no futebol brasileiro. Clubes como Palmeiras, Atlético-MG e Fortaleza mostram que, com criatividade e foco no torcedor, é possível não apenas engajar mais pessoas, mas também transformar essa paixão em receita constante.
O desafio para 2025 é continuar aprimorando esses programas, entendendo as particularidades de cada torcida e explorando ao máximo o potencial de fidelização. Se o futebol brasileiro quer se aproximar dos modelos europeus, o sócio-torcedor precisa estar no centro dessa estratégia, equilibrando paixão, finanças e resultados dentro e fora de campo.