O futebol brasileiro vive uma transformação silenciosa fora de campo. A criação das Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) vem alterando a governança de diversos clubes, mas o relatório anual da Convocados, Outfield e Galapagos Capital, divulgado em 2025, mostra que a mudança de modelo societário não garante, por si só, resultados imediatos — nem dentro de campo, nem nas contas.
Modelo SAF no futebol ainda não garante sucesso, diz relatório
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Crescimento acelerado das SAFs, mas com dívidas ainda pesadas
De acordo com o relatório, a receita média das SAFs cresceu 20% em 2024, contra apenas 6% das associações. Esse crescimento acelerado das SAFs é natural, segundo os autores, pois reflete o impacto inicial de processos de reorganização e reestruturação.
O Bahia, o Botafogo, o Cuiabá e o Cruzeiro, por exemplo, estão entre os principais clubes SAF que mais ampliaram suas receitas no período. Ainda assim, a dependência de transferências de atletas e os resultados esportivos (como o Botafogo, que viveu bom momento em campo) foram determinantes para esses avanços.
Por outro lado, as SAFs carregam dívidas médias maiores que as associações — um resquício das gestões anteriores que agora precisam ser equacionadas. Apesar disso, o ritmo de crescimento das dívidas em 2024 foi maior entre as associações (20%) do que nas SAFs (10%), sinalizando que o maior risco está, hoje, nos clubes que ainda operam sob o modelo tradicional.
Investimento alto, mas sem padrão único
O relatório também destaca que as SAFs seguem investindo mais do que as associações, em média. Esse dado está ligado à necessidade de reestruturação e modernização dos elencos, o que gera um efeito colateral curioso: mesmo clubes menores acabam pressionando os grandes a investirem mais, criando um ciclo de escalada de custos.
Contudo, o estudo faz questão de frisar que o comportamento financeiro e esportivo dos clubes não está diretamente atrelado ao modelo societário. O que realmente diferencia os resultados é a capacidade de gestão e adaptação de cada clube ao cenário — seja ele SAF ou associação.
Ainda cedo para julgamentos definitivos
Apesar das promessas de modernização e transparência, o relatório é cauteloso ao afirmar que ainda é cedo para avaliar o efeito prático das SAFs no futebol brasileiro. Em alguns casos, como no Atlético Mineiro (que virou SAF, mas mantém a mesma estrutura e gestão prévia), a mudança societária não alterou a essência administrativa.
Por outro lado, clubes como o Bahia mostraram que o foco esportivo e o suporte de investidores podem dar frutos rapidamente — mesmo que ainda existam desafios financeiros importantes pela frente.
Reflexão para o futuro
A mensagem central do estudo é clara: o modelo societário — seja associação ou SAF — não é decisivo para o sucesso. O que importa, de fato, é a gestão e a capacidade de adaptação ao ambiente de negócios do futebol, cada vez mais competitivo e complexo.
O futuro do futebol brasileiro, segundo o relatório, depende de clubes que sejam capazes de conjugar profissionalismo e visão estratégica, independentemente do formato jurídico que adotem.